Os jogos têm sido uma parte fundamental da vida humana desde os tempos antigos. Seja em forma de tabuleiros, cartas ou jogos digitais, eles desempenham papéis que vão muito além do simples entretenimento. Vamos entender como os jogos refletem a história, as crenças e os valores das culturas ao longo do tempo, bem como como eles evoluíram para se tornar fenômenos globais e essenciais em nossa sociedade moderna.
Jogos vão além do jogar
O Jogo do Ganso, um dos jogos de tabuleiro mais antigos ainda em prática, oferece um exemplo fascinante de como um jogo pode ser um reflexo de uma época. Originado na Itália medieval, o jogo foi documentado pela primeira vez em 1480. Sua estrutura simples de 63 espaços nos leva a uma questão intrigante: por que 63 espaços?
De acordo com Adrian Seville, a resposta está profundamente enraizada nas crenças numerológicas da época. Os espaços do jogo estavam ligados à noção do Grande Climatério, uma ideia medieval que acreditava que aos 63 anos, o ser humano completava um ciclo crítico de sete anos, o nono ciclo da vida. O número 9, na cultura medieval, era considerado sagrado, uma “trindade das trindades”. O ganso, um símbolo de boa sorte, também representava a esperança de transitar com sucesso por esse período crucial da vida. Este exemplo mostra como um simples jogo de tabuleiro pode ser um reflexo das crenças espirituais e da visão de mundo de uma sociedade.
Jogos são um reflexo da cultura e da sociedade
Os jogos, de modo geral, não são apenas ferramentas de lazer; eles são reflexos de nossa cultura e história. Como observou Mackenzie Colin (2004), “a cultura não é simplesmente algo expresso nos jogos, mas algo que surge a partir deles”. Em outras palavras, os jogos não apenas refletem valores e crenças, mas também moldam a sociedade em que são praticados.
Por exemplo, no passado, jogos de estratégia, como o xadrez, eram frequentemente jogados por membros da classe alta e serviam como uma metáfora para a guerra e o controle. Já os jogos de azar, como dados e roletas, eram populares nas classes mais baixas, oferecendo uma forma de escapismo e sorte. Esses jogos muitas vezes refletiam a estrutura social de suas épocas.
O papel no desenvolvimento humano
O poder dos jogos vai além da diversão. Eles desempenham um papel fundamental no desenvolvimento humano, desde a educação até o treinamento profissional e militar. Katie Salen e Eric Zimmerman (2004) argumentam que os jogos atendem tanto a necessidades emocionais quanto práticas. Eles não só proporcionam diversão, mas também desafiam os limites dos jogadores e estimulam a criatividade, a resolução de problemas e a adaptação a diferentes cenários.
Além disso, os jogos também têm sido usados como ferramentas educacionais. Jogos sérios, por exemplo, são criados com o objetivo de educar, treinar ou simular situações da vida real. Estes jogos têm finalidades que vão além do simples entretenimento, como melhorar habilidades profissionais ou ajudar a entender processos históricos.
A evolução dos Jogos
À medida que as civilizações evoluíram, os jogos também passaram por transformações significativas. No passado, os jogos de tabuleiro e as cartas eram as formas mais populares de entretenimento. Jogos como o xadrez e o pôquer não eram apenas uma forma de passatempo, mas também eram vistos como metáforas para as batalhas da vida e o controle do destino. Johan Huizinga, em seu trabalho seminal Homo Ludens (1949), argumenta que a cultura em si nasce do ato de brincar, e que os jogos estão no cerne da construção cultural humana.
Hoje, os jogos digitais dominaram, mas a essência da competição, da estratégia e da interação social permanece. A transição de jogos físicos para digitais não significa uma perda de profundidade cultural, mas sim uma expansão das possibilidades. Jogos como World of Warcraft e League of Legends oferecem plataformas globais onde jogadores de diferentes culturas interagem, compartilham estratégias e até mesmo desenvolvem novas formas de socialização digital.
O Impacto cultural dos jogos
Os jogos, em todas as suas formas, continuam a desempenhar um papel central na vida das pessoas. Eles refletem as sociedades em que surgem, moldam comportamentos sociais, e, muitas vezes, revelam as crenças e valores de uma época. Desde o simples Jogo do Ganso, que simbolizava a transição espiritual da vida medieval, até os complexos mundos digitais de hoje, os jogos oferecem uma forma única de explorar o desenvolvimento humano e cultural.
Os jogos, em todas as suas formas, continuam a desempenhar um papel central na vida das pessoas. Eles refletem as sociedades em que surgem, moldam comportamentos sociais, e, muitas vezes, revelam as crenças e valores de uma época. Desde o simples Jogo do Ganso, que simbolizava a transição espiritual da vida medieval, até os complexos mundos digitais de hoje, os jogos oferecem uma forma única de explorar o desenvolvimento humano e cultural.
Para saber mais…
Avedon Elliott M. & Brian Sutton-Smith (2015/1971), The Study of Games, New York & Tokyo: Ishi Press.
Booth Paul (2018), “Missing a Piece: (The Lack of) Board Game Scholarship in Media Studies”, The Velvet Light Trap 81(1): 57–60.
Huizinga Johan (1949), Homo Ludens: A Study of the Play-Element in Culture, Oxon: Routledge [Kindle edition, 2009].
Mackenzie Colin (2004), “Liubo: The Five-Hundred-Year Craze”, in C. Mackenzie & I.L. Finkel (eds.), Asian Games: The Art of Contest, New York: Asia Society, pp. 113–125.Salen Katie & Eric Zimmerman (2004), Rules of Play: Game Design Fundamentals, Cambridge, MA: MIT Press [Kindle edition].